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Encara, com letra e música de Llach, é a primeira faixa de Somniem (1979) e inclui-se no vasto ciclo de canções civis ligadas ao catalanismo. Tem uma estrutura de cantilena no refrão com estrofes de ritmo mais pungente. Nas 2ª e 4ª estrofes, há a referência a Almansa, nome pelo qual ficou conhecida uma das batalhas decisivas da guerra de Sucessão Espanhola (1701-1713/5), quando os catalães, aliados com os franceses, tentaram impedir a ascenção de Felipe de Bourbon em favor de Carlos de Áustria.
À essa época, o reino da Espanha era uma espécie de reino federado, no qual os reinos integrantes eram ligados à Coroa de Castela por união pessoal. Enquanto a Coroa de Castela apoiou a ascenção de um Bourbon, a Coroa de Aragão (inclusa aí a Catalunha), tomou parte de Carlos de Áustria e desencadeou-se um dos maiores conflitos europeus do século XVII. A batalha de Almansa (25 de abril de 1707) marcou decisivamente a vitória borbônica, o que muito mal para Catalunha, Valência e Aragão que viram seus foros privilegiados extintos e a proibição do uso da língua catalã, com os decretos de Nova Planta (1707 para Valência e Aragão, 1715 para Maiorca e Pitiúsas e 1716 para Catalunha).
A canção de Llach, presa na palavra ainda, ou seja, de depois de tanto tempo da batalha de Almansa e da legislação de Nova Planta, a língua continua esquinçada, assim como as terras dos Países Catalães continuam com linhas no seu interior a cortá-las, trepitjades.
Encara
Venim del nord, venim del sud, de terra endins, de mar enllà.
Trepitjades terres que en el pas dels segles no heu trobat repòs.
Encara
cal obrir l’oracle de nostra història per a saber què som
Encara
esquinçades terres que heu vist les fronteres dins el vostres cos
Encara
escolteu la veu de tots aquells que creuen que és temps de cantar:
Venim de nord, venim del sud…
Trepitjades terres que vàreu perdre a Almansa el vostre dret a ésser
Encara
si creiem que som, malgrat tantes nits que ens han allunyat,
Encara
esquinçada llengua, fidel testimoni del que encara som,
Encara
escolteu la veu de tos aquells que creuen que és temps de cantar:
Venim de nord, venim del sud…
Trepitjades terres que heu plorat amb fills el dret d’existir,
Encara
perquè avui és hora de poder lluitar pel que volem ésser
Encara
esquinçades terres que rebeu el dia amb els mateixos mots
Encara
escolteu la veu de tots aquells que creuen que és temps de cantar:
Venim de nord, venim del sud…
Esquinçades terres que heu vist les fronteres dins el vostre cos
Encara
trepitjades terres que vàreu perdre Almansa el vostre dret a ésser
Encara
esquinçada llengua, fidel testimoni del que encara som,
Encara
perquè avui és l’hora de poder lluitar pel que volem ésser
Encara
Venim de nord, venim del sud…
© Edicions l’Empordà
Ainda
Vimos do norte, vimos do sul, de terra adentro e de além-mar.
Espezinhadas terras que no andar dos séc’los não viram repouso.
Ainda
há de abrir-se o oráculo da nossa história pra podermos ver-nos
Ainda
espezinhadas terras que vistes as fronteiras pelo vosso corpo
Ainda
Escutai a voz daqueles que creem que é hora de cantar:
Vimos do norte, vimos do sul…
Espezinhadas terras que perdestes em Almansa o direito à vida
Ainda
se cremos que somos, apesar das noites que nos afastaram,
Ainda
destroçada língua, fiel testemunho do que ainda somos,
Ainda
escutai a voz daqueles que creem que é hora de cantar:
Vimos do norte, vimos do sul…
Espezinhadas terras, chorastes com os filhos o direito a ser
Ainda
porque agora é hora de poder luitar pelo que vamos ser
Ainda
Destroçadas terras que com os mesmos verbos acolheis o dia
Ainda
escutai a voz daqueles que creem que é hora de cantar:
Vimos do norte, vimos do sul…
Espezinhadas terras que vistes fronteiras pelo vosso corpo
Ainda
espezinhadas terras em Almansa perdestes o direito de ser
Ainda
espezinhada língua, fiel testemunho do que ainda somos
Ainda
por que agora é hora de poder lutar pelo que vamos ser
Ainda